sexta-feira, 16 de outubro de 2009












Enfim.

Falta tao pouco tempo que eu nao sei se é bom ou ruim, e nao sei se conto os dias pra ir ou os dias que tenho pra ficar aqui... Queria ter mais tempo, mas ao mesmo tempo, queria chegar aí amanha. =/ Difícil abracar o mundo como se abraca o travesseiro... E difícil estar onde se quer estar como se está quando se vê fotos antigas ou relê diários ou os escreve... Às vezes quero estar em casa, e às vezes já estou. Estranho? Acho que nem tanto, ainda mais pra alguém que nem eu. (Seja lá o que isso quer dizer.)

Como estás? Nao me mandas emails grandes desde o início do ano. O ano passou que nem um arco-íris que é tao lindo, e a gente nao quer parar de olhar, porque a qualquer momento pode sumir. Quem já viu um arco-íris sumir? Quem já viu ele aparecer? Só se vê quando ele está lá e pronto. E de repente ele nao está mais, e pronto. Meu ano foi assim, colorido, lindo e fugaz.

E eu ainda tô no meio de Outubro e já tô falando como se o ano tivesse acabado... Mas a verdade é que tem dias que eu conto meu tempo por fins de semana. Meu tempo livre é no fim de semana, é quando eu posso viajar ou nao, quando eu posso sair ou nao, quando eu posso dormir até mais tarde, ou nao. E eu só tenho mais sete fins de semana aqui. Sete!! Sendo que o último vai ser arrumando mala, entao nao conta. E dois fins de semana eu vou trabalhar, entao nao vai ser tempo livre. Entao eu tenho quatro fins de semana!!!! É muito pouco.

=P

Blé, deixa minha matemática de surfista pra lá. Eu quero mesmo é saber como estás, se estás feliz. E saber se estás ansioso pra me ver. Cof cof cof. hehehe =)
Saudades.
Amo vc.
Beijo
Di.

sábado, 10 de outubro de 2009

A Arte de Perder.

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Já contei pra vocês da Simone? A Simone é uma "guria" que veio passar um dia na minha casa uma vez. Ela é do Sul e tá morando em Colônia, e veio visitar Hamburgo e nao tinha onde ficar. Bom, ela me ensinou uma coisa que eu nunca esqueci. Foi assim. A gente tava caminhando pro restaurante preferido da galera (Kartoffelkeller, claro) e ela contou das botas que ela estava usando na hora. Contou que achou o par de botas na rua, empézinho, bonitinho, só esperando por ela. Ela olhou e pensou "maneiro! nao tenho botas!". Calcou e... surpresa! Coube direitinho no pé dela. Que coisa, nao? No dia seguinte estávamos eu, Simone e Giovana, que também passou a noite na minha casa, e pá! A Simone esbarra num par de luvas de couro lindas, juntinhas, na frente da Hauptbahnhof. Ela pegou e colocou na mao. Certinho!! E adivinha... ela nao tinha luvas. Contaram pra Simone do costume alemao de nao pegar pra si nada que se acha na rua (exceto dinheiro, talvez. E Pfand!). Eles acham uma blusa, um casaco, um cachecol, uma luva, um bichinho de pelúcia, o que for, e colocam fora do caminho, pendurado numa cerca, em cima de um arbusto, bem à vista da pessoa que com certeza vai voltar pra buscar o que perdeu. Assim a gente anda na rua, nas calcadas, e sempre vê alguma coisa ali esperando pelo dono. Dá até vergonha de pegar, porque os outros vao olhar e vao saber que você está roubando, pegando algo que nao é seu, e que vai fazer falta pra alguém.
Outro dia eu vi um lenco LINDO, penduradinho na cerca da casa no final da minha rua. Eu passei a primeira vez, vi, parei, olhei em volta, tinha muita gente, ai que vontade de pegar!! Era verdinho transparente, com umas florzinhas pequeninas coloridas, bordadas. Disse a mim mesma que se eu passasse ali de novo e o negócio ainda estivesse lá, eu ia pegar pra mim. Passei mais três vezes e nao peguei. Essa cultura alema impregna mesmo...
Bom, ontem eu tava com a Felia passeando, tirando fotos do Outono que tá chegando, e deixei umas coisas em cima do carrinho dela: a capa da máquina, minhas chaves, o livro que eu estava lendo e um saquinho com biscoitos que a Felia gosta. Saí alegre e saltitante, colecionando folhinhas vermelhas e colocando dentro do livro, e tirando minhas fotos, observando as pessoas... No caminho que eu faco com a Felia tem muitas pessoas com carrinhos de bebê ou fazendo jogging, ou os dois. E nesse meio tempo umas três passaram por mim. Quando dei por mim, o saquinho de biscoito e o livro tinham sumido. Olhei ao redor, procurei embaixo do carrinho, nada. Fiz o caminho de volta e achei: só o saquinho. Meu livro foi roubado!! =( Pela primeira vez, senti o que os outros devem sentir quando fazem o caminho de volta e nao encontram o que perderam pendurado em nenhuma cerca. É horrível. Me senti desarmada, primeiro porque ia ficar sem saber o final da história, e segundo porque nenhuma das folhas que eu juntei jamais vai voltar pra mim. Lembrei de um poema da Elizabeth Bishop, que chama "A Arte de Perder", e ela diz que nao tem nenhum mistério em perder algo.
E é mesmo, quando você perde algo que você gosta muito e sente que nao pode viver sem, e entao descobre que pode sim, que há vida além daquilo... É uma sensacao de desespero no início, de sem chao... Mas depois vem a sensacao de liberdade e é nisso que você deve se agarrar. Alguém vai ler aquele livro, e pode ser que guarde as folhas como uma lembranca de alguém que nunca conheceu. É o que eu faria.
Alguém vai fazer bom uso das botas que você, por algum motivo misterioso, deixou juntinhas no canto da rua. Alguém vai esquentar as maos e se sentir o máximo nas luvas de couro que você deu a sorte de perder - JUNTAS! (Quem além de mim perderia os dois lados da luva de uma vez só?)
E se você achar algo na rua de que possa fazer muito bom uso, pensa bem, por que nao pegar? Além de dar um novo sentido ao objeto, pode dar um novo sentido à vida de quem o perdeu.
E como diria a Simone, "Você precisa, você reza por aquilo. E Deus ajuda, mas você tem que pegar!"

Esperando o dono, antigo ou novo.