sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011


repleto de luz, de transparência, de abraços, de sorrisos, de amor, de paz, de alegria e de muitas realizações!!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre o que fazer quando não se sabe o que fazer.


E se um dia eu sabia o que queria e a pergunta era "O que eu faço agora?", era quase sempre no sentido de "o que preciso fazer agora para conseguir o que quero?". Hoje a pergunta é a mesma, mas num sentido um tanto diferente...
`Perguntei a mim mesma um "What's next" em voz alta, ao que o Felipe respondeu que (como diria nosso mais novo amigo suiço) não devia me preocupar com o futuro, pois o que importa mesmo é o presente.
Ué, mas eu preciso saber o que eu quero do futuro, pra saber o que eu faço do meu presente! Não é? Então fica a pergunta...
O que eu faço agora?







PS: Depois de escrever o texto aproveitei o clima de "reveillón em breve" para fazer a famosa lista de "resoluções para o ano de 2011". Um bom começo para começar a responder a pergunta que fica, eu acho.

A verdade de cada um.

A única verdade verdadeira é aquela que é compartlihada.
O casal mora separado, não cada um numa casa, mas cada um numa cidade. Ainda assim são um casal, e ela sempre o visita. Ele o visita menos, porque ele mora sozinho e ela, não. Um dia ele foi para a cidade dela, eles tinham combinado de ficar num hotel. Escolheram o lugar, acertaram data, horário e cardápio, tudo certo. Chegaram no tal hotel, lotado. Eles não tinham feito reserva!
Para ela era lógico que ele faria a reserva, ele que era o viajante, ele quem iria pagar...
Para ele era óbvio que ela faria a reserva, pois não ficava o hotel na cidade dela? Ela só precisava fazer uma chamada local. Ele, que trabalhava o dia inteiro e tinha tanta coisa na cabeça, ainda tinha que lembrar de ligar interurbano do celular e fazer reserva de hotal?? Óbvio que não.
E assim, o que era lógico pra ela e o que era óbvio pra ele eram duas coisas bem diferentes. Ficaram os dois sem reserva, sem quarto, sem hotel, todos os hotéis da cidade resolveram lotar naquele dia. Restou-lhes um único cafofo fedendo a cigarro num hotelzinho velhinho de beira de estrada...
Porque a verdade é relativa, mais relativa que o tempo, que nem existe... A verdade minha e a verdade tua só podem ser a verdade nossa quando expressamos cada uma em alto e bom tom, mesmo que ela venha por vezes atravessando a garganta seca e os olhos úmidos... Só assim, doída, mas falada, podemos ter a certeza de conhecer uma só verdade - a verdade verdadeira, porque comum.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cenas Improváveis

1
Três rapazes vêm rebolando pela calçada. Uma mãe sentada na parada de ônibus olha para a filha de 11 anos rindo, e diz "olha quem vem aí". Parece que conhecem os rapazes. Eles passam falando de babados fortíssimos. A filha só observa. A mãe olha e ri em tom de deboche, e balança a cabeça para a moça que está sentada ao seu lado.
"Não é ser preconceituoso não, mas é esquisito", diz ela para a desconhecida.
"Dá até medo de ter filho homem...", responde a outra.
"e vice-versa, né, porque com mulher também acontece!"
"é mesmo.."
"Deus abençoe nossos filhos..."
E todas voltam a se preocupar com o ônibus que não chega nunca.


2
Como sempre, a menina entra no ônibus a caminho do trabalho, cumprimenta o motorista e então o cobrador, com um "boa tarde" animado. O cobrador não responde, e olha para a nota de vinte reais e a carteira de meia-passagem.
"Não tem trocado?"
"Não tenho..."
"Então a senhora vai ter que descer na próxima parada.", diz o cobrador, puxando a cordinha.
"O quê? Como assim?"
A próxima parada chega. Várias pessoas sobem no ônibus formando uma fila pra passar na roleta.
"Desça aqui, senhora."
"Mas moço, eu tenho que ir pro traba..."
"Desça, senhora." diz ele, apontando para a porta entupida de gente.
"...eu não sei quando o próximo vai pass..."
"Desça agora!"
O motorista quer arrancar, o cobrador chama, dizendo pra ele esperar.
"Desça agora, senhora."
"Eu tô esperando abrir espaço!" diz ela, quase chorando. "Licença, o moço tá com pressa."
As pessoas dão passagem pra ela descer do ônibus, ela nem viu se os rostos concordavam ou não com o ridículo/absurdo que acabara de ocorrer.



3
Um garotinho segurado pelas mãos brinca na escada da porta de saída do ônibus. A parada chega, a porta se abre, ele quase cai. A mãe que segurava as mãos dele apressa pra ele descer logo. O degrau é maior que as perninhas dele, e ele quase cai e ela quase cai junto.
"Filho da puta!" ela grita pra ele.
"Olha o Papai Noeeeel!" exclama o pequeno, olhando pra decoração na fachada do Shopping.





Não tenho como provar, mas tudo isso aconteceu mesmo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ufa.

Satisfeita ou não, finalmente a parafernália acabou.
Tava quase processando os nossos caros ($$) candidatos por poluição sonora.

=P




Não sei como é no resto do Brasil, mas aqui as eleições são sempre regadas a Brega. Todos os candidatos - TODOS MESMO - fazem um hit, geralmente com o ritmo paraense, e colocam carros de som e aparelhagens nas ruas para tocar as músicas que pregam na cabeça que nem chiclete. Comentando sobre isso com uma amiga alemã, lembrei que na Alemanha as eleições são calmas, com cartazes espalhados, geralmente sem fotos de ninguém, e sim com as propostas e os nomes e cores dos partidos como informação principal. É muito interessante que no Brasil vejamos de fato o rosto das pessoas, a coisa fica mais real. Mas como a minha amiga disse, enquanto passávamos por um trio elétrico de um candidato, com uma música nas alturas, "é um absurdo esse barulho geral durante o mês inteiro. Isso é, aliás, um motivo para eu NÃO votar em alguém."


Se fosse assim não sobrava ninguém. =/

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

a natureza última de uma simples gota d'água é a mesma do oceano

Peço desculpas por fazer perguntas pessoais. Não estou perguntando apenas por mim, mas por muitos. Quem é você e por que veio ao mundo?

Se essas perguntas são pessoais ou não, não faz diferença, porque, pra mim, a pessoa não existe. É impossível fazer perguntas pessoais, porque ninguém é uma pessoa. Na verdade, fazer perguntas pessoais não é presunção, mas presumir-se ser uma pessoa é que é presunção. [...] Na realidade, não há pessoas; melhor dizendo, há somente uma pessoa. Só de Deus pode-se dizer que tem uma personalidade, porque só Ele pode ter um centro.
Nós não temos centro. O centro em nós não existe, mas nós assumimos um centro. Esse centro assumido é o ego. O ego é hipotético, ilusório, mas sentimos que sem um centro a vida é impossível.
Assim sendo, você pensa que essas questões são pessoais, mas enquanto elas não são dirigidas a mim, são dirigidas a uma não-entidade. No que me diz respeito, não sinto de modo algum que sou uma pessoa. Quanto mais fundo se vai, menos se é, e quando alguém alcança o âmago supremo de si mesmo, não existe nenhum "eu".
Em segundo lugar, você pergunta quem sou eu. Eu lhe digo: "eu não sou". Estou sempre dizendo aos que buscam que perguntem a si mesmos: "Quem sou eu?", não para que venham a saber quem são, mas para que chegue um momento em que a pergunta seja feita tão intensamente, que o perguntador não esteja mais presente, e só a pergunta permaneça. Haverá um momento em que a questão será absolutamente tensa, tanto quanto pode ser. Então se revelará o seu absurdo. Você ficará sabendo que não há ninguém que possa perguntar "Quem sou eu?", nem a quem se possa perguntar: "Quem é você?" A pergunta não é feita para se obter uma resposta, mas sim para se transcender a própria questão.
[...]
Quando você pergunta: "Quem é você?", isso para mim significa "O que é?" Mas, por meu intermédio, você fez uma pergunta fundamental.
"O que é" não é "eu", mas o próprio ser, a própria existência. Quando se mergulha a fundo em uma única gota, encontra-se o oceano. Só na superfície a gota é apenas uma gota. Ela é a própria existência. Assim, a natureza última de uma simples gota d'água é a mesma do oceano. É oceânica. Somente na ignorância alguém é uma gota d'água. A partir do momento em que alguém sabe, sabe que é o próprio oceano.


Trecho retirado do primeiro capítulo do livro "Eu sou a Porta", do Guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh.

domingo, 19 de setembro de 2010

Cartas na Mesa


Li ontem uma matéria sobre o Medo, na Vida Simples. Uma edição de 2009, porque há tantas ainda não lidas lá em casa, que de vez em quando eu pego uma antiga assim pra ficar com ela na bolsa durante a semana, e folhear sempre que tiver um tempinho. Ontem eu tive mais que um tempinho, porque meu vô tá no Hospital e eu fui lá ficar com ele, e enquanto ele via Tv eu não conseguia estudar, então abri a revista e li umas páginas. Uma entrevista com a esposa do Jimmy Page, que fundou uma Instituição de apoio a projetos que trabalham com crianças de rua no Brasil, inspirador! Dois parágrafos sobre reaproveitamento do cocô de alguns animais na fabricação de papel - um deles cheira a rosas! Muito divertido. =) Uma matéria linda sobre um francês que é pura arte, e que atravessou de ponta a ponta (oito vezes) uma corda bamba que ele ligou entre as duas torres gêmeas, décadas atrás. Belo...
E aí fui pra matéria da capa. "Enfrente seu Medo".
Por que escolhi especificamente essa revista, dentre todas as outras, para entrar na minha bolsa essa semana? O motivo foi bem simples, como o nome da revista. Eu estava com medo.
Há uns dias encontrei uma taróloga que tinha sido contratada para ler o futuro de todos os convidados da festa (aqueles que quisessem saber do futuro, claro...). Minha primeira reação foi "Deus me livre!"... Mas, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que, se não aproveitasse a chance de saber meu futuro "de grátis", ia me arrepender pra sempre. Então lá fomos nós, eu e mais todo mundo, colocar nossos nomes na lista de atendimento. Era gente que não acabava mais, coitadinha da cigana...
Lá pro fim da festa chegou a minha vez, e, ao contrário da previsão de todos os outros convidados, que depois de ouví-la vieram falar pra gente das fortunas que iriam ganhar, eu ouvi meu destino e preferi me calar. Não tinham fortunas... Algumas alegrias, até mesmo um final feliz, mas uma notícia iria me assombrar pro resto da semana.
Aí, pronto: medo instalado e um soco no estômago que não queria mais sair.
E dá-lhe a Diana andar na rua ouvindo e vendo tudo de novo, as cartas na mesa, os olhos profundos que me falavam das decepções que me aguardavam...
E nada adiantava gritar pra si mesma, "presente, Diana! Volta pro presente! Ele que tu tens, ele é que importa!"... O medo ainda estava lá.
Achei que a revista pudesse me ajudar. Mas só fui ter coragem de ler (lembrando que coragem nem sempre é o oposto de medo) depois que a angústia havia diminuído e eu já tinha caído em mim, e entendido que, na verdade, medo é inútil.
A reportagem, porém, me despertou reflexões interessantes. Por exemplo, que nossos medos não são como os instintos animais, que servem para a própria proteção contra o perigo que se revela nos sentidos. Nós sabemos que vamos morrer, e sabemos que ter medo da morte não faz com que nos livremos dela. Sabemos que podemos ser assaltados, e o medo do assalto faz com que fiquemos em casa, perdendo muitas coisas boas da vida e, ainda assim, que jamais estaremos 100% em segurança.
Mas uma frase da revista me fez dar um novo sentido, uma utilidade ao nosso medo. "Se hoje um dos nossos maiores medos é o de fracassar, é porque uma das nossas maiores buscas é o sucesso." É isso! Os medos servem para que reconheçamos os nossos próprios desejos, nossas vontades, que se escondem atrás deles. Conhece teus medos e vais saber o que procuras. Se tens medo de perder uma pessoa, é porque queres justamente o contrário (ou talvez porque não queres ficar sozinho...). Se tens medo de falar em público, de passar vergonha, de ser julgado, é porque te importas com o que os outros pensam, apesar dos teus maiores esforços em desmentir esse fato. Ao saber esses pequenos detalhes, esses desejos, por vezes defeitos, muitas vezes virtudes, podemos nos conhecer melhor e mudar o que estiver precisando de mudança.
E da mesma forma que o que achamos dificil revela o que a gente ainda não sabe, mas pode vir a saber se enfrentarmos a dificuldade, o medo revela o que ainda não temos, mas podemos vir a ter se enfrentarmos esse monstrengo que a gente, meio inconscientemente, só faz alimentar e acariciar, até que ele nos devora.
Quanto à espiadela no futuro, vá lá, eu tava com medo de saber o que viria, e com razão. Mas enfrentei o medo (ok, só porque a curiosidade venceu), espiei, e agora? Me resta aceitar. A Mitologia, a Literatura e mil filmes já falaram dos perigos que residem na tentativa de mudar o seu próprio destino. Mesmo o Espiritismo diz que somos nós mesmos que traçamos todo esse caminho, antes de nascer. Mas a verdade é que quando reencarnamos esquecemos de tudo, e nem o passado nem o futuro se deixam conhecer por inteiro, até que tenhamos uma consciência completa de nós mesmos e do mundo. Então, pra que se estressar? O presente é o mais perto que eu posso chegar da verdade, e dele depende tudo o que vem depois.
Basta aceitar o presente, e aceitar o presente de grego que o destino às vezes é, e aceitar as pessoas como são, e me aceitar como sou, com minhas vontades, minhas impefeições e todinhos os meus medos.

E por mais difícil que isso seja, não é impossível. E, como eu li na revista, "quem não tenta, não experimenta, já fracassou."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Grande Ônibus Lotado" ou "Marex Ver-o-Peso"

Depois de um calor básico num ônibus com o dobro da quantidade normal de passageiros...

Cheguei do aeroporto. Deixei ela o mais perto possível do Avião - naquela linha que as pessoas sem cartão de embarque não podem ultrapassar. Uma moça falou do vôo 1874, mas na verdade era 1873, e a moça disse, "é, esse mesmo. Venham comigo. São vocês duas?" Bem que eu queria... Não, só ela. Aí eu me despedi, elas ultrapassaram a linha e eu fiquei olhando... Sabia que ela não ia olhar pra trás, porque não ia me ver acenando, então só vi ela se afastando até sumir. Disse pra ela me ligar quando entrasse no avião, mas não aguentei e liguei antes. Ela disse que a mulher não sacava das coisas, eu disse que ela falasse o que precisava, que disesse de que lado ela enxergava melhor, pros outros saberem, pra ela se sentir segura... Ela riu dizendo que sabia, que eu não me preocupasse. Ahan.. Fácil, fácil.
Fiquei um tempão na parada... Celular num bolso, dois reais no outro, um pacote de mentos na mão, sendo devorado em longos trinta minutos... Ela ligou "tô entrando no avião!" na hora que eu estava entrando no ônibus.
Foi ela que me deu os dois reais e o mentos, porque o papai, que foi deixar a gente lá, tinha que ir pro trabalho e só quem ficou fui eu. Até então eu tinha só o celular na mão e uma emoção contida porque o que eu tanto tinha sonhado, incentivado, dito, relaxa mãe, vai dar tudo certo! Agora ia acontecer. Minha irmã vai viajar sozinha, e eu que vou resolver tudo do embarque dela, não posso deixar nada passar, não posso esquecer nada, tudo tem que ser perfeito... "É o suficiente pra ti?", disse ela pegando o troco e me dando os dois reais. "É, só não posso pegar o ônibus errado." "Di, não vai pegar o ônibus errado, hein! É só pegar um que vá pra Almirante!". Hahaha... tão fofa.
Aí eu entrei no meu ônibus ao mesmo tempo que ela entrou no dela. O dela era o grande ônibus lotado, o meu era um Marex Ver-o-Peso que, tchum, virou numa ruazinha e entrou numa garagem, todos tinham que sair. Ai, e agora? Moço, todo mundo tem que descer? Sim. E eu tenho que pagar pra entrar no outro? Não. Menos mal. Tinham três, entrei num que já tava saindo e sentei na janela com sombra. Sorte.
Ou não.
Chegando no final da Dr. Freitas, naquele lugar que eu não sei nem identificar no Google Maps, e que são muito calos pra andar até em casa, o ônibus encostou e não saiu mais do lugar. Eu tranquila, olhando a paisagem que não se mexia, e quando dei por mim, só tinha eu e o cara do meu lado no ônibus. O cobrador e o motorista já tavam na rua, esperando pra dar o sinal pro próximo Marex que passasse.
Ai, meu Deus... Será possível? Bom, assaltada é que eu não vou ser. 15 centavos num bolso e um celular velho no outro, um par de havaianas arranhadas pela Cherrie, calça jeans suja de Cheetos e uma blusa do mágico de Oz bem suada por causa do sol das três da tarde...
Se me recusarem ônibus de graça, tenho um longo caminho pela frente, ou talvez uma longa espera por uma carona, ou pelo menos uma boa história pra contar.

E o ônibus dela, que horas será que ele chega?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amigas de Infância

Amanda: Desculpa a demora, tia, é que a gente trocou de sapatos.
Sofia (mostrando os pés): É, olha só!
(entram na sala desfilando)
Amanda: A gente vai trocar de volta quando chegar na casa da Sofia.
Sofia: É, a gente é melhor amiga, faz tudo juntas!
Amanda: É.
Sofia: Tia, sabia que a gente é amiga de infância?? A gente se conhece desde o Maternal!
Amanda (abaixada pegando caneta na mochila): NADA DISSO! A gente se conhece desde que a gente nasceu!
Sofia: Ah, é!! Desde que a gente nasceu!!
Tia: Ah, é? Tanto tempo assim?
Sofia: É, eu ia nascer, e aí a minha mãe ligou pra mãe dela, e elas foram juntas pro hospital e a gente nasceu juntas!
Amanda: Foi!
Sofia: É, eu conheço a Amanda desde que eu nasci.
Tia: Mas vocês lembram disso??
Amanda: Claro, a gente tem foto, tem vídeo...
Tia: Ah, tá, mas lembrar lembrar, nao, né... Vocês eram bebezinhos!
Sofia: Mas eu lembro sim, tia! Eu lembro direitinho de quando a gente nasceu!! Juntas!
Amanda: Eu também.






Minhas aluninhas de... 7 anos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Edição de Colecionador

Tem gente que coleciona moedas antigas, outros colecionam selos, cartões-postais, alguns colecionam corações partidos. Eu coleciono placas. É. Placas. Eu amo placas... Foi com elas que eu aprendi a ler, me fascinavam (já aos 2 anos de idade) aquelas letras, aqueles símbolos, aqueles desenhos que desfilavam, passavam por mim quando andávamos de carro pela capital, e eu via pela janela aquelas placas-por-toda-parte, e me fascinavam. Até hoje vejo nelas um brilho, me saltam aos olhos, me chamam, parece que me contam seus segredos a toda hora. As de carro me permitem brincar com os significados escondidos, e volta e meia encontro alguém para me ajudar a desvendá-los. Desde que aprendi alemão ficou mais fácil encontrar palavras dirigindo por aí.
Tenho muitas. Lixeiras falantes, nomes de ruas, adesivos de carro, pára-choques de caminhão, pare, vire, cuidado com as renas, atenção: neve na pista, até uma bruxa voando eu já achei numa placa de trânsito. E as placas de carro marcam nos álbuns de viagem os lugares por onde eu passo. Tenho muitas, tantas! Letras e números, às vezes bandeiras. Um dia vou escrever uma frase com elas. Quem sabe um texto inteiro.



Algumas delas estão aqui.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Diana não mora mais aqui."

Nova Iorque, flat no Bronx, seis da manhã. Um homem responde às perguntas impertinentes do agente da polícia sobre sua ex-namorada. Ela se mudou tem 11 meses, apesar de tantas horas de conversas e brigas na tentativa desesperada de salvar o amor de seis anos... Ele colabora sonolento, querendo que aquilo acabe logo. Preocupado e magoado, não quer deixar transparecer que secretamente ainda sente a falta dela... Casinha antiga num Vilarejo de Klagenfurt, Áustria. Portas e janelas fechadas, portão quebrado, jardim abandonado. "Diana não mora mais aqui", diz a vizinha encostada na porta entreaberta da casa ao lado se dirigindo ao carteiro confuso, que vê o sobrenome certo na caixa de correio de uma casa visivelmente vazia, e fica sem saber o que fazer com a correspondência destinada àquele endereço. Parece importante, um envelope gordo, mas sem remetente. A curiosidade o invade... "Diana não mora mais aqui." Do outro lado do telefone, a portuguesa explica para a voz de sotaque brasileiro que não, não sabe onde ela está, se foi sem deixar endereços ou roupas no armário. Fazia tempo que ninguém ligava atrás dela... Silêncio. Cortinas voando. Belém do Pará, num apartamento com vista para orelhões quebrados. Um grilo entra pela sacada e canta cri-cri-cri, na sala escura, cri-cri-cri, móveis cobertos, cri-cri-cri, tudo é poeira, cri-cri-cri, diz ele ao vento:
- Diana não mora mais aqui.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Com amor e alegria!











O que dizer de duas semanas e meia longe de casa, do namorado, do trabalho, do estudo e da suadeira de Belém do Pará?
Eu podia dizer muitas coisas, listar os poréns e ressaltar as vantagens, mas prefiro dizer simplesmente: foi perfeito.
Irmãos-amigos dos mais queridos completando as paisagens, a diversão e o descanso às vezes cansativo, mas sempre bem-vindo, que compõe qualquer viagem de Férias.
Obrigada, meus amores! =)))


=*muá

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Joga pro chão!


- Hum, toda arrumada, já vai pra farra, é?
- Vou, pra minha terapia semanal: bolero!
- Terapia, é?
- É! (batendo o pé) Jogar tudo pro chão!

Não lembro do diálogo, como ele foi de verdade, mas nunca esqueço das palavras da minha tia, a caminho da melhor terapia - dançar. "Jogar pro chão!" A tristeza, a raiva, a energia negativa, o stress, e até o cansaço: bate o pé no chão e joga tudo pra terra. Existe jeito melhor de se livrar de tudo isso?


Acabei de chegar do show do Arraial do Pavulagem, que os alunos da Ufpa tiveram a felicidade de receber hoje à noite no estacionamento do Vadião. Carimbó, xote, reggae, quadrilha... Mas não tem jeito. O que ganha qualquer festa é aquele amontoado de gente na frente do palco, um imitando o outro, fazendo chegar lá na última fileira as coreografias ensaiadas lá na primeira. Todo mundo dançando junto, no mesmo passo, a batida irresistível daquela música essencialmente nortista, maravilhosamente contagiante...

Eu não consegui deixar de notar a semelhança que todas aquelas coreografias têm com as danças indígenas de que eu tenho conhecimento.

Em um dos EIMEPs que participei, teve um dia uma dinâmica com músicas indígenas, e tudo que fazíamos era, em roda, acompanhar com os pés a batida da música tribal. A intenção era se conectar com a Terra e, assim, conectar-se conosco mesmos. Foi maravilhoso, vinte jovens em círculo batendo os pés em uníssono, vibrando na mesma energia e se conectando com o Planeta. Só quem já fez isso sabe como é indescritível. E no final, saímos em fila da sala, ainda batendo os pés no ritmo, e nos juntamos aos outros jovens das outras salas, e fizemos uma grande roda, todos juntos, jogando pro chão. Foi lindo!!

E depois de tanto bater pé dançando música indígena, de tanto levar a perna direita pra frente e pra trás dançando carimbó, brega, depois de tanto bater a perna direita e depois a esquerda, dois pra lá, dois pra cá, no xote, no forró, no bolero, e depois de tanto dançar as coreografias tribais do Arraial, (e mesmo quem não tá no meio, tá dançando, de tão contagiante e vibrante que esses ritmos são), a gente vai pra casa "breado", ensopado, encharcado, quebrado, moído, mas sorrindo - e leve, incrivelmente leve!

Agora me diz, isso lá acontece depois de dançar uma valsa?



Arrastão do Pavulagem, na Praça da República



Fotos:
http://cacofeapa.blogspot.com/2009/07/arraial-do-pavulagem-inicia-o-veraneio.html
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/img/indios.jpg
http://www.flickr.com/photos/murilodeirane/1577263889/

quinta-feira, 3 de junho de 2010

sobre distâncias, amores e afins.

Muito já foi escrito sobre saudade. Sobre a dor da distância, sobre a dificuldade de se ter um namoro "virtual", ou pelo menos "não-presencial". Seja por causa de viagens, seja porque você deu o azar de se apaixonar loucamente por um cara que não mora na sua cidade, ou seja porque vocês já namoravam e ele foi embora - e nenhum dos dois conseguiu terminar.
Dói. E como dói.

Mas acho que pouco foi escrito sobre como manter um relacionamento assim. Falando com o Bê ontem - e me espocando de rir dentro do ônibus -, ele me pediu encarecidamente que eu revelasse a fórmula mágica que mantém relacionamentos à distância.

- Égua, me explica. Tu me dizes que depois de Europa, um ano na Alemanha, confusão, distância, vocês ainda estão juntos?
- Estamos!
- Meu Deus, se eu fosse pra Europa, eu... não sei, eu...
- Ficava solteiro?
- É! Não! Gente, como vocês aguentaram? Diana, isso não se faz! Tu não podes saber de uma coisa dessas e guardar ela só pra ti, tem que divulgar, tem que contar pra todo mundo! Que egoísmo esse teu, caramba!
- (gargalhando) Tá bom, Bê, eu te conto.
- Conta? Jura? Escreve um Best-seller pra mim?
- (chorando de rir) Best-seller! Hahahahaha! Tá eu escrevo. Mas eu vou colocar no blog, tá?

É, assim sendo, cá estou eu.
Mas parando agora pra pensar no que escrever, me dei conta de que eu não sei!! Me lembrando de quando eu viajei para fazer intercâmbio... A gente na verdade tinha pensado em terminar - sabe como é, um ano distantes, queríamos evitar a possibilidade de terminar por telefone... Aí ia ser eu na minha, ele na dele, eu lá e ele cá. E, claro, se falando todo dia, se dizendo "eu te amo", sentindo saudades e querendo tá perto. Isso não parece namoro pra vocês?

Então na última hora decidimos: vamos continuar namorando. Se algo acontecer, aconteceu. Mas se a nossa vontade é ficar juntos, que então fiquemos juntos.

Eu não vou dizer que foi fácil. Mesmo quando ele também foi pra Alemanha e ficamos separados por uma estrada de 800km em vez de por um Oceano inteiro... Foi horrível pra ele, quando ele ainda estava no Brasil, ouvir minhas histórias, ver fotos e perceber o mundo de pessoas que eu estava conhecendo, e saber que ele não era parte de nada daquilo, por mais que quiséssemos que fosse. E depois, foi muito tosco saber das baladas diárias que ele tinha na Universidade de Stuttgart, da liberdade dele dentro de uma casa de estudantes com vizinhas gostosas, das viagens sem mim porque eu tinha que ficar em casa e trabalhar.
E o jogo? Quem pegar estrangeiros, 1 ponto. Quem pegar estrangeiros raros, 10 pontos. Quem pegar Alemães em alemão, 3 pontos. Quem pegar brasileiros, 5 pontos negativos. Quem tiver namorada e pegar qualquer um deles, 50 pontos. =P
(Não lembro dos números, tô inventando.)

Pois é, era uma situação bem crítica. Mesmo morando no mesmo país, estávamos em momentos diferentes, e momentos diferentes é bem pior de segurar do que países diferentes.
Mas em momento algum deixamos de conversar sobre isso - conversas sinceras e às vezes turbulentas, mas sempre sinceras.

E no fim de cada conversa o que ficava claro era uma coisa só: nos amávamos, e isso que importava.

E apesar da saudade, das DR's, das lágrimas, das desconfianças e das confianças também, acho que a gente se saiu muito bem. =)
E eu creio que o mais fundamental pra que desse tudo certo, foi que ambos tinham plena certeza do amor que temos um pelo outro, e da vontade enorme de que continuasse dando certo.

E deu! Logo logo vamos completar 4 anos e meio de namoro (sendo tanto o aniversário de 3 anos, quanto o de 4 anos, "comemorado" pelo skype.). 4 anos e meio de cumplicidade, de respeito e de muita alegria!

Não é lindo?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mutirão de Novo!

Dia 16 de Maio, contamos com todos que tiverem interesse e boa vontade, para juntarem-se a nós no segundo Mutirão da 25 de Setembro!!

Vista sua camisa verde mais fuleira e venha fazer um exercício físico e ajudar o planeta e a nossa cidade. =D

Qualquer dúvida, envie um email para colorindosonhos@gmail.com ! Participe!

http://www.grupocolorindosonhos.blogspot.com

sábado, 1 de maio de 2010

Mutirão do Bem!

Muito obrigada a todos que vieram, que participaram das reuniões, que ajudaram com os preparativos e que mandaram boas energias pra que nosso mutirão desse certo!!! Vim aqui dar notícias de como foi (pra mim).
Escolhemos começar por um quarteirão compricado. Lá é depósito não oficial de lixo e entulho, e as pessoas jogam lixo ali com carroças, carrinhos etc, sem o menor pudor. Inclusive presenciamos uma bela cena dessas, e ficamos de mãos atadas, com o pensamento de que, se eles não jogarem ali, vão jogar em outro lugar igualmente péssimo. Acho que esse ponto deve ser anotado para que pensemos numa solução para o problema.
Bom, 1/8 da meta de 8 quadras foi cumprida. Aêêêê! =) Isso mesmo, passamos a manhã toda limpando uma quadra só - quase quatro horas de trabalho intenso. A avaliação que eu fiz foi: fizemos um ótimo trabalho, graças à nossa boa vontade e a ajuda divina dos lixeiros que nos acompanharam. Tiramos lixo que devia estar lá há meses, vimos coisas bem desagradáveis, mas no final a quadra que estava um LIXO, ficou um brinco, e eu fiquei bem feliz. Não só eu - moradores do prédio em frente à quadra nos observaram e um deles veio até conversar com a gente. A receptividade nas casas, pelo que eu ouvi, também foi muito boa, e arranjamos até um possível espaço de reunião. =)
A divulgação nas ruas foi a mais intensa: as nossas garotas-propaganda fizeram um ótimo trabalho nos sinais, com direito a cantadas e parabéns pela iniciativa. Percebi que, por menor que seja, terá uma repercussão e que conquistamos algumas pessoas para a causa, não sei quantas, podem ser poucas, mas cada pessoa produz 600g de lixo por dia, então toda ajuda é válida!
Bom, e se com 9 pessoas, o resultado foi positivo, imagina se tivermos mais gente! Então eu acho que agora é hora de divulgar bastante, levar pros centros espíritas, pros colegas da faculdade e pros familiares essa campanha que cansa, suja, arrasa com a gente, mas no final, depois de um banho e de um sono, eu respiro aliviada e feliz, pronta pra próxima. =)

céu azul: limpo na noite anterior pela chuva
que começou 10 da noite e terminou 5 da manhã. =) Papai do Céu sabe o que faz.

Luvas, Vassouras, Pás e Sacos de Lixo. Preparar...

Apontar...

Fogo!!

Se não fossem eles...!!

Super Liga contra os poderes do Mal!

http://www.grupocolorindosonhos.blogspot.com

quinta-feira, 29 de abril de 2010

emaranhado

No carro, eu e ele, indo pra casa. Eu com a minha mania de olhar placas de carro e descobrir significados, me deparo com a placa do carro em frente ao nosso e caio na gargalhada. Qualquer um que olhasse acharia que eu estava rindo do "69" duplo, mas ele não. Ele entendeu que não era só isso. É tão bom não precisar explicar tudo o tempo inteiro...

No cinema, vendo a Alice, ele começa: "o gato é aquele cara que canta uma música ridícula naquele filme que você gosta". Como eu não reconheci?? "É?", perguntei, e ele "você sabe de quem eu tô falando?"... claro que sei. Com uma descrição dessas, como eu não saberia? Ele riu. A gente se entende, mesmo. E continuamos a brincadeira-nerd-preferida (ou uma das): adivinhar os atores que dublam os desenhos animados.

Antes de dormir falávamos de fulana, uma amiga em comum (raros não o são), e de repente ele pergunta, a ciclana ainda está na Ufpa? Nada a ver fulana com ciclana, por que ele lembrou dela? "As duas usam o sutiã do mesmo jeito..." Ah, tá, entendi.

Nos livros, nos filmes, nas músicas, ele aprendeu como a minha mente funciona: embaraçada, emaranhada, uma coisa liga a outra que leva a uma terceira, e pula pra quinta e sai em disparada. E não é que aprendeu a fazer isso também?

Vantagens da famosa pergunta que permeia inícios de namoro: "o que você está pensando?" Um dia paramos de perguntar. Uns param porque já não se interessam mais. Nós paramos porque agora conseguimos adivinhar.



No dia do carro, quis tirar uma foto e, sentindo que não ia dar tempo,
ele dobrou na rua errada só para seguir o carro e eu conseguir tirar a foto.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

E o Mutirão vai acontecer!!

Em Belém do Pará, na Rua 25 de Setembro, no dia 25 de Abril!!
Simbora, galera! =)

Mais informações:
http://grupocolorindosonhos.blogspot.com

Você Sabia?

Não se recicla pacotes de Biscoito nem de Salgadinho! Fiquei revoltada quando soube disso. Acho que o simples fato de que ainda se fabrica coisas não recicláveis é o cúmulo, em pleno Século XXI. Eu hein, povo burro!!!


Mais informações sobre o que se recicla e o que não se recicla:
http://grupocolorindosonhos.blogspot.com/p/coleta-seletiva.html

domingo, 4 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Não é Mentira.

No dia primeiro de Abril, os jornais, tanto escritos quanto televisivos, na Alemanha, não são confiáveis. Sempre divulgam uma ou duas notícias falsas, que são desmentidas no dia seguinte. O mesmo vale para o Google, que sempre anuncia alguns absurdos, vale procurar descobrir qual é o da vez. =)
Ah, já ia esquecendo.
Tô grávida!
\o/

só o Felipe sabia até agora, mas como é primeiro de Abril, achamos que seria uma boa data pra divulgar, assim ninguém se choca.
=)
hihihihihi...

quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Viajar para Viver

história que aconteceu graças à MINHA cidade. =D
texto sensacional!!

por Eugenio Mussak

Por obrigações de trabalho, mas também por puro prazer e vontade de aprender, sempre viajei muito. Estive em todos os estados brasileiros – em alguns, várias vezes – e em boa parte do mundo. Nessas viagens, conheci, claro, muitas coisas interessantes e outras nem tanto. E estive em lugares de todos os tipos. Alguns maravilhosos, outros deploráveis, mas de todos guardo lembranças de experiências que me ajudaram a ser melhor.

E conheci também muitas pessoas interessantes. Tenho uma verdadeira coleção de tipos com quem interagi e que me ensinaram alguma coisa. Lembro- me, por exemplo, de um norteamericano de certa idade que sentou a meu lado num voo para Belém do Pará, em 1990. Antes de embarcar, eu havia passado na livraria do aeroporto para comprar um lançamento de meu ficcionista científico preferido, o russo-americano Isaac Asimov, chamado A Viagem Fantástica II.

Logo que embarquei, tratei de me acomodar na poltrona, ávido para começar a leitura. Mas, logo após a decolagem, enquanto eu ainda estava nas páginas iniciais, notei que o cidadão ao lado estava com o corpo ligeiramente curvado em minha direção e os olhos esticados, tentando ler meu livro. Isso me incomodou e eu olhei para ele fixamente. Ele, então, sorriu meio sem jeito, mas com simpatia me perguntou: – Desculpe, o senhor fala inglês?

Levei um instante para perceber que ele falava comigo, em um inglês de norte-americano nativo – “Excuse me, do you speak English?” Achei engraçada a coincidência, pois o livro começava com uma moça se dirigindo a um cientista durante um congresso, perguntando: “Desculpe, mas o senhor fala russo?” Coincidência ou não, aquilo quebrou minha resistência.

– Yes, but... Sim, mas não perfeito – respondi, cuidando para, junto com a resposta, devolver o sorriso que o estranho ao meu lado me dava.

– Com certeza, é melhor que meu português – acrescentou ele, polidamente. – É que eu reparei que você está lendo AViagem Fantástica, do Asimov, e esse livro foi lançado nos Estados Unidos há uns dois anos apenas. O que está achando dele?
– Na verdade, acabei de começar a leitura, mas estou animado. Gosto do Asimov porque ele usa fundamentos científicos prováveis em suas histórias de ficção e não apenas palavras da ciência para enganar o leitor, como fazem outros.

– Concordo. Suas histórias talvez possam ser realizadas no futuro, como as viagens interestelares. Aliás, ele gosta de escrever sobre viagens. Você já reparou como os livros que relatam viagens encantam as pessoas?

– Nunca tinha parado para pensar sobre isso, mas acho que você tem razão, pois viajar é um forte desejo humano. Além disso, ler um livro é como fazer uma viagem. Tanto a viagem como o livro nos colocam frente ao desconhecido, que é, ao mesmo tempo, excitante e amedrontador.

– Sim, praticamente todos os grandes livros são excitantes e amedrontadores. Veja o primeiro grande autor, Homero. Na Odisseia, Ulisses, após a guerra de Troia, trata de voltar para casa e inicia uma viagem cheia de aventuras, ao mesmo tempo em que Telêmaco, seu filho, viaja para procurá-lo. Se você pensar bem, verá que essa história poderia ser definida como a viagem de encontro ao destino de cada um.
Estava começando a gostar daquele gringo. Era bem-humorado, entendia de literatura e ainda fez uma rápida análise psicológica de um clássico. Resolvi cutucá-lo. Se a conversa estivesse boa eu poderia dar-lhe corda, se não, tinha a desculpa de voltar à leitura.

– Camões escreveu algo parecido em Os Lusíadas. Assim como Ulisses e Telêmaco, Vasco da Gama também é protegido por alguns deuses e perseguido por outros. E você reparou que, em ambos os casos, o objetivo final da viagem é voltar para casa? Fico pensando que esse seria o objetivo de qualquer viagem. Voltar para casa.

– Ou voltar-se a si mesmo – continuou ele. – Olhar o exterior para entender melhor o interior. Você tem razão quanto ao destino final. Veja o caso do lorde Phileas Fogg, n’A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Jules Verne, que parte de Londres com destino a Londres. Ele viaja para o leste e volta pelo oeste. Só que, quando volta, ele é outra pessoa, menos esnobe, mais humilde, melhor. Está apaixonado pela princesa que conheceu na Índia, mas, na verdade, o que aconteceu é que ele desenvolveu uma nova paixão pela vida. Através da aventura e do amor, ele reencontrou o homem que já tinha sido e do qual tinha se afastado em função das convenções e obrigações sociais, muito fortes na Inglaterra vitoriana.

– Ele volta diferente, melhor do que era antes de partir. A conclusão é que a melhor parte de uma viagem é a volta? – perguntei.

– Não, a melhor parte é o aprendizado. Veja o caso dos livros do escritor brasileiro que está despontando no mundo. Seus personagens voltam para casa só após terem aprendido alguma coisa e se transformado para melhor. (Ele estava se referindo ao Paulo Coelho, que na época já tinha lançado seus dois primeiros livros, ambos sobre viagens.)

– Então, em sua opinião, as viagens são tão atrativas por serem metáforas da própria vida? Nesse sentido, este li- vro do Asimov talvez seja o mais perfeito, pois a viagem a que ele se refere é para dentro do corpo de uma pessoa, utilizando um submarino miniaturizado. Com o detalhe de que eles vão até o cérebro, o centro do pensamento.

– A metáfora do Asimov é ótima, e o título do livro é melhor ainda, pois nosso interior é o território mais misterioso. Mas não estou me referindo ao corpo, e sim à alma humana. E, preste atenção: todos nós nascemos viajantes, mesmo quem não viaja, pois, se pensar bem, você verá que a verdadeira viagem fantástica é a própria vida.

– A verdadeira viagem fantástica é a própria vida... – pronunciei eu, lentamente, falando comigo mesmo, em uma reação própria de alguém que tem um imenso e maravilhoso insight.

Já se passaram cerca de 20 anos desde esse encontro. Não me lembro o nome do viajante ao lado nem se o diálogo foi exatamente assim. Mas me lembro bem do assunto que tratamos e, sobre ele, lembro que estava morando no Brasil porque havia se apaixonado primeiro por uma brasileira do Norte e depois por nossa cultura, música e comida. Recordo as analogias da viagem com a vida, do fato de que os confortos e as dificuldades, as alegrias e os aborrecimentos, as idas e as vindas de uma viagem são uma paráfrase perfeita da própria existência humana. E lembro que ele citou Bob Dylan antes de pedir licença e se recostar na poltrona para dormir o resto do voo:

– Yes, my friend: “Life is nothing but a trip”. (“A vida nada mais é do que uma viagem.”) E me deixou com o livro nas mãos, a cabeça cheia de pensamentos e o coração pulsando com a ideia de que a vida é uma viagem fantástica. Nunca mais parei de me considerar um viajante para seguir em frente, seja em outro continente, seja em meu bairro.
É fundamental definir bem o roteiro para não ter surpresas ruins na viagem? Há dois tipos de viagem que eu gosto: as que eu planejo nos mínimos detalhes e as que eu faço sem planejar nada. É claro que as viagens planejadas são mais confortáveis têm menos surpresas, mas não podemos esquecer que as surpresas fazem parte dela. Aliás, viajamos para nos surpreender com o mundo. Atualmente, eu prefiro planejar até certo ponto, como definir bem as datas de ir e voltar, reservar alguns hotéis, mas gosto de deixar espaço para o improviso, para a aventura.

Viajar é uma das melhores sensações da vida. O dinheiro aplicado em uma viagem não é um gasto, e sim um investimento. Seu retorno vem em forma de cultura, de entendimento, de percepção, de experiência e, principalmente, em forma de vida. Uma viagem não se esgota no retorno. Continua em nossa lembrança em forma de imagens, sons, cheiros, texturas.

Lembro quando viajei pelo Saara com um amigo israelense chamado Avi. Ele dirigia um caminhão especialmente preparado para aquelas condições e de repente esticou o braço para fora da janela, apontando para um lugar no meio da areia, e disse:

– Olhe, um tuaregue. Eu apertei os olhos e fiquei tentando encontrar o habitante do deserto a que ele se referia, mas o máximo que conseguia ver, além da areia, era um pequeno movimento que lembrava água sobre as dunas – na verdade uma ilusão causada pelas ondas de calor que o solo devolve à atmosfera. Ele, percebendo minha dificuldade, parou o caminhão e me convidou a descer.

Foi então que eu pude ver um homem e seu camelo, ambos da mesma cor, e da cor do deserto, claro, em perfeita harmonia, de uma beleza ímpar.
– Para onde ele está indo? – perguntei, provavelmente só para dizer alguma coisa para cortar aquele silêncio eloquente do deserto.

Ele está sempre em movimento – explicou meu amigo. – Não precisa ter, necessariamente, um lugar para ir. Ele é um nômade que não sai do deserto, mas está sempre viajando, pois essa é sua essência. Assim como as dunas, que se movem permanentemente, o habitante do deserto não se detém. Ele sabe que, se parar provavelmente, será coberto pela areia.

E assim somos nós, ocidentais urbanos, que também precisamos do movimento para não sermos cobertos pela poeira do tempo e pelo mofo da acomodação. Uma viagem pode não ser a vida, mas é uma bela metáfora dela, pois nos faz defrontar uma realidade maior e nos abre a alma para o entendimento.

Entretanto, sempre é bom lembrar que viajar tem partes, e uma delas é a volta para casa. E feliz daquele que considerar esta como uma das melhores. Entre outras coisas, viajar nos ensina a amar nosso lar, nosso país, nossa gente. Afinal, como disse Goethe, sábio é aquele que consegue criar, para seu uso, “raízes e asas”, essas duas maravilhosas possibilidades humanas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mutirão!

Quem topa montar um mutirão de limpeza em Belém do Pará? Levante a mão e me escreva um E-mail. Quero pegar um povo, uma luva de plástico e uns sacos de lixo e passar uma manhã catando aqueles lixos nas ruas e nas praças, aqueles que todo mundo vê e ninguém cata, e que só enfeiam e apodrecem lentamente a coitadinha da nossa natureza. E aí? E então? Quem quer?

escreva pra cá:
umdianalua@gmail.com

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Couchsurfing para os problemas do Mundo.

Quais sao os problemas do mundo? E quais sao as raízes desses problemas? Na minha humilde opiniao, os problemas existem porque as pessoas nao se conhecem. E se conhecem, nao conhecem o suficiente. E se nao conhecem o suficiente, é porque nao se interessam o suficiente ou nao sao abertas pra conhecer nem pra serem conhecidas. Imaginem se todo mundo tivesse acesso à história de cada um, às aspiracoes e aos sentimentos dos outros! Teríamos a chance de conhecer de verdade uns aos outros, e saber de cara que aquela pessoa que parece meio chata, no fundo teve um dia ruim ou uma infância difícil, e assim deixar os preconceitos de lado e tentar descobrir o que ela tem de bom e de interessante. Isso seria a chave pra paz, pra harmonia e pra gentileza entre estranhos, e gentileza gera gentileza, e de repente, o mundo seria um lugar bem melhor.
Bom, o Couchsurfing conecta as pessoas que têm esse desejo em comum: que o mundo seja um lugar melhor. Ok, nem todas as pessoas que estao lá têm esse desejo, mas acredito que boa parte delas tenham. E uma delas eu conheci semana passada, quando pedi abrigo pra uma noite em Kassel, pra onde eu viajei com a Camila, minha amiga linda que veio me visitar. =)
E ao meu pedido veio uma resposta super simpática de um alemao que abriu a casa dele, o carro e o coracao e nos recebeu com alegria e interesse, e junto com ele, com a namorada e com o primo dele, tivemos conversas ótimas, uma ótima noite de sono, uma lasanha deliciosa e um domingo de aventuras.
Foi uma surpresa encontrar tanta simpatia vinda de totais estranhos. Mas com certeza isso é uma corrente que comecou bem antes, quando eles foram recebidos por estranhos, e vai continuar sendo passada adiante, quando eu e a Camila também recebermos estranhos em nossas casas, através do site ou por outro motivo.
Por que nao abrir sua casa e seu coracao e receber alguém com um sorriso e muita boa vontade? Mostrar o seu país, a sua cidade ou só o seu bairro, ou mesmo só a sua sala com um sofá onde ele possa dormir, caso nao tenhas tempo de passear. Mas com certeza faz toda a diferenca nao só no bolso e na experiência de quem está viajando, como principalmente no modo de ver o mundo e as pessoas de vidas e culturas diferentes.
É uma corrente muito, muito válida, e eu recomendo!!
Link: http://www.couchsurfing.com/

Couchsurfing e Gentileza por um Mundo melhor! =D













nossos anfitrioes

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"Pensem no Haiti, rezem pelo Haiti..."

Enquanto aqui em Hamburgo a gente treme de frio, no Haiti a terra treme de medo. O numero crescente de mortes por conta dos sucessivos terremotos, do desamparo e da fome, acorda os questionamentos que nos aterrorizam. Por que há tragédias como estas? Por que Deus deixa isso acontecer? Por que tantas mortes inocentes, tanta injustica e tantas calamidades quase impossíveis de se solucionar? Estaria a Terra devolvendo pra gente todo o descuido e a displicência com que a tratamos? Seria destino? Seria acaso? Um pagamento de dívidas passadas? As religioes dao suas respostas, os filósofos criam mais perguntas, alguns nao ligam, outros nao ligam sequer a televisao.
Eu poderia escrever aqui minhas especulacoes, minhas crencas, mas o que realmente me chama atencao quando essas mega tragédias ocorrem nao é o medo das pessoas de um castigo ou do fim do mundo. Assim como o Tsunami, grande onda que varreu o sudeste da Ásia em 2004, a onda visível de solidariedade e amor ao próximo que atinge a humanidade diante dessas tragédias nao é coisa pequena. Sao tantos os que se emocionam, que se preocupam, que tentam ajudar, que oram, que sao tocados de tristeza pela tristeza alheia, de forma tao involuntária e natural, que isso forma uma corrente de amor no planeta que une tudo e todos, e os resultados disso só podem ser mágicos.
A frequência com que se fala e que se mostra as novidades dos terremotos na Tv pode até ser intencionalmente grande por conta da renda que as emissoras têm com tragédias espetaculares. Mas a quantidade de estandes que eu vi em Hamburgo de empresas recolhendo doacoes para os moradores do Haiti me chamou a atencao. Estandes montados no centro do shopping center mais caro da cidade. As doacoes, por mais que nao sejam o óbolo da viúva, sao pedidas sinceramente e entregues de fato às vítimas em forma de água, alimento, vacinas e primeiros-socorros, com prestacao de contas diárias nas notícias locais. E links como o que eu li hoje, um livro do Saramago com a venda integralmente revertida para ajudar as vítimas; e E-mails que circulam a torto e à direita, com contas para doacoes, com notícias e com pedidos singelos para que "oremos pelos nossos irmaozinhos no Haiti"... Essa onda de dedicacao ao próximo é que me invade e que me faz chorar, muito mais até do que a tragédia em si.
E se há males que vêm para o bem, a pergunta que eu faco é: é preciso mesmo haver males para que haja o bem? Se somos capazes de nos sensibilzar tanto quando uma catástrofe atinge o mundo, somos perfeitamente capazes de fazer o bem a cada dia, sem que as catástrofes precisem ocorrer. Olhando ao redor e ajudando os nossos irmaos que estao ali, do nosso lado, precisando de nós e nao os enxergamos.
Porque como disse Caetano, "o Haiti é aqui, o Haiti nao é aqui... "





(Foto: AFP)
Em filas infindas, os sobreviventes esperam sua vez de receber água e comida.


(Foto: REUTERS)
Agora sem-tetos, as vítimas se amontoam nas diversas "cidades de barracas".

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Andar sobre a água.

Domingo nublado, temperatura a menos quinze graus, três meia-calcas e uma calca jeans, duas blusas e um casaco, um protetor de orelha, um gorro, duas meias e uma bota. Três luvas, uma em cima da outra. Nao tem jeito, o frio bate e nao tem pena. Calcadas cobertas de gelo mesmo depois de uma semana inteira sem nevar. É tao liso que cada passo é precioso, e as maos ficam instintivamente à frente do corpo - isto é, caso nao estejam muito preocupadas em se proteger do frio se enfiando nos bolsos do casaco. O carrinho de bebê nao tem pneus de inverno e as botas estao velhas e já nao evitam movimentos derrapantes e vôos rasantes. O nariz sangra do clima seco, os olhos secam com o vento gelado, as orelhas doem por causa do frio, os lábios rachados gemem de dor porque... simplesmente nao tem como nao rir.
O que diabos estamos fazendo fora de casa??? Por que, meu Deus, trocamos o calor tao bom da lareira, as pantufas tao macias e o aquecedor tao útil e prestativo, por esse sofrimento voluntário??
Mas a pergunta fica no ar, e nos ocupamos em rir e pular de alegria diante de um cenário tao único e raro como o que encontramos ao acaso, gracas à nossa feliz idéia de sofrer.
Um lago - que na verdade é um rio - bem largo - congelado quinze centímetros e repleto de pontinhos pretos que eram pessoas em cima dele. Andando sobre a água. Patinando com seus patins de gelo, com seus tênis ou com suas barrigas, correndo, caindo, se equilibrando sobre o gelo tao liso, mas tao liso, que nao tem como duvidar. Aquilo nao é a neve derretida da calcada, nem um pátio molhado porque o estao lavando. É um lago, e congelou, e tá tao liso e reto e branco e enorme, que a gente só pode pular, mesmo sabendo que pular é perigoso nessas circunstâncias... e a gente só pode rir, mesmo sabendo que rir só faz a boca rachar mais ainda.
Conhecem a expressao "rachar o bico"? Entao, acho que vem daí. Quem inventou essa expressao foram as felizes pessoas que, mesmo num frio impossível, nao conseguiam parar de rir e pular de alegria.