quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

28 de Dezembro de 2009

Em algum ponto do Céu entre o Rio e Belo Horizonte...


Ninguém merece!!! Estávamos preparados para pouso, descendo no Galeao, no meio de uma nuvem branca muito espessa, com a tendência a ficar cinza e negra quanto mais baixa nossa altitude. Chovia e o aviao balancava muito... Mas nao parecia perigoso.
De repente, o aviao parou de descer, acelerou e comecou a subir. Eu acompanhei todos os movimentos da asa: ele subiu, fez curvas, desceu, subiu de novo, mais alto, foi pra mais longe, pra uma parte do litoral, com praias mas sem calcadao, pra uma parte montanhosa da cidade (ou fora da cidade), sem vista pro mar, e ficou um tempao nessa brincadeira.
Qualquer um notaria que ele tava nos enrolando. Eu pensei: ou ele tá esperando algum outro aviao passar ou pousar, ou é a chuva que tá atrapalhando, ou o aviao foi sequestrado e nao nos contaram. Pronto. Fiquei vendo as aeromocas sentadinhas nos seus banquinhos, calmas, impassíveis, fingindo estar tudo normal, enquanto um terrorista escondido no banheiro mantinha uma metralhadora mirando suas cabecas. Fiquei imaginando uns caras na cabine do piloto forcando ele a fazer movimentos pra lá e pra cá enquanto decidiam se explodiam o Pao de Acucar ou o Cristo Redentor, sem saber o que causaria mais efeito na mídia.
Deixei de viajar, e entao fiquei com medo de o piloto ter recebido uma ordem de última hora para pousar no aeroporto S. Dumont, de onde seríamos levados de ônibus para o Galeao, naquele belo trânsito de cinco da tarde do Rio. Rezei pra que nao fosse isso. "Eu vou perder meu vôo pra Paris!!" (eu pensava, bem frescamente.)
Mal eu sabia.
Entao, aquela vontade básica de fazer xixi, que eu tava segurando há séculos, comeca a gritar que nao aguenta mais esperar. Eu levanto, e a aeromoca anuncia (praticamente exclusivamente pra mim): "Permanecam sentados!! A aeronave está em procedimento de descida!" Eu olho pra ela, aponto pro banheiro, ela faz que nao com o dedo, eu sento de novo, resmungando chateada: "Procedimento mais demorado..."
Mais uma vez o aviao mergulha, e bem quando eu pensava, até que em fim!, ele volta a subir e o sinal de apertar os cintos apaga. Mal sinal.

"Senhoras e Senhores, aqui é o Comandante. O aeroporto Galeao está sob uma chuva MUITO forte, e infelizmente foi fechado, portanto estamos seguindo agora para o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte."

Eu gostava mais da idéia do ônibus no trânsito das cinco da tarde.

Fim das Férias-em-casa.

Pois é... Foi bom enquanto durou. Foi curto, foi corrido, às vezes foi triste, às vezes estressante. Mas eu tava no calor de Belém, no conforto de casa, no xodó da mamae, no cheiro da comida da Dal e da Vovó, no riso das minhas irmas e dos meus primos, nos abracos infindos da minha família imensa e linda, dos meus amigos, dos meus amores. Eu tava em casa. E agora tô voltando pra outra casa. A volta pra lá é diferente de como foi a primeira vez. Dessa vez eu sei o que me espera. Dessa vez eu sei o que tenho que fazer, e quanto tempo eu vou ficar. Eu queria muito poder ficar em Belém mais tempo, ou mesmo de vez, pra dar tempo de ver todo mundo e abracar todo mundo e comer tudo que eu sinto saudade de comer, e provar as coisas novas e ver o que eu sinto tanta falta de ver. Mas agora eu preciso ir terminar o que eu comecei, pra voltar de mala e cuia pro meu aconchego, daqui a exatos dois meses bastante frios.

Obrigada, Família! Vocês me deram as minhas melhores Férias-em-casa! (mesmo sem praia. =)
Amo muito vocês, e me esperem, amores, que eu já já tô chegando de novo. Depois do inverno, uma nova temporada das flores, mas dessa vez vai ser uma temporada bem misturadinha com a vida real - ao vivo e em cores. =)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Chovendo

Na varanda. Ouvindo os passarinhos, os cantos mais diferentes, ouvindo o barulho do trânsito, o barulho de um avião passando, o choro de uma criança na vila do lado do meu prédio. Mais passarinhos, uma buzina, o vento nas folhas - de manhã cedo o vento é frio e arrepia os braços - um ônibus passou. A criança não chora mais, um carro arrancou apressado quando o sinal abriu, alguém tá abrindo o cadeado de um portão, alguém fechando uma porta, outro alguém pedalando uma bicicleta barulhenta, passarinho, que som é esse? Esse som é o som de home, sweet home, som de Zuhause, som da minha cidade acordando e indo trabalhar/estudar/brincar/voar/viver.


"Eu nunca fui embora, mesmo quando parti. Fui voltando pra tua porta, vivo chegando aqui." Nilson Chaves

em casa, 15 de Dezembro de 2009.

Cântico XXII

nem sei se já escrevi esse aqui, mas é conveniente. =)


Não busques para lá.
O que é, és tu.
Está em ti.
Em tudo.
A gota esteve na nuvem.
Na seiva.
No sangue.
Na terra.
E no rio que se abriu no mar.
E no mar que se coalhou em Mundo.
Tu tiveste um destino assim.
Faze-te à imagem do mar.
Procura o mar.
Dá-te à sede das praias
Dá-te à boca azul do céu
Mas foge de novo à terra.
Mas não toques nas estrelas.
Volve de novo a ti.
Retoma-te.

Cecília Meireles


Fui ao mar, às praias, subi aos céus e contemplei as estrelas, ainda de longe, mas não tão longe.
Agora é hora de chover, pra depois fugir ao mar novamente; mas agora eu chovo. Chovo por três semanas seguidas...

(em 13/12)

no Caminho para Belém... (13/12)

Nem acredito... Tô indo pra CASA!!! Só de lembrar disso me dá um frio na barriga... Ai God. Bom, até agora, tudo mais que perfeito. Ontem no aeroporto eu e a tia Ana Rosa demoramos quase duas horas pra nos acharmos, mas o dia foi ótimo!! Chegamos na casa dela em Niterói, e o tio Fernando tava preparando tapioquinhas pra gente. Ai, uma delícia! Boa parte das minhas saudades gastronômicas a tia Ana Rosa satisfez. Fez carne assada, feijão, arroz e farofa pro almoço, suco de laranja, suco de abacaxi, picolé de limão, água de coco (!!!) bem gelada na orla de Niterói, e até pão de queijo. =) Maravilhoso! Eles foram o máximo. Na hora do almoço fomos visitar a Lili no shopping onde ela trabalha. Tão linda a minha prima... Não tem horas suficientes pra matar a saudade dessa menina. De noite (depois de eu dormir umas nove horas seguidas) ela chegou do trabalho e a gente ficou conversando até 2h da manhã, comendo waffles e lendo C. F. A. Foi uma delícia, queria que não acabasse... Mas aí ela dormiu e eu fui arrumar minhas malas, meu vôo pra Belém seria de manhã cedo no Domingo, e eu queria ter tudo prontinho. Na hora a gente até se atrasou um pouco, mas eu tive sorte... porque já tava na hora do vôo, eu fui contemplada com 20kg de excesso de bagagem grátis! Dei muita sorte, ia dar mais de 200 reais! E deu tudo certinho, sentei do lado de uma menina legal de Macapá e agora estou confortavelmente aproveitando as mordomias que só um vôo TAM pode oferecer. =D Pode parecer propaganda, mas é verdade: nem meu vôo internacional foi tão confortável. Sensacional! E mais sensacional ainda... Tô chegando em CASA!!!!

Chegando no Rio! (12/12)

Vôo mais que agradável, com direito até a um episódio de F.r.i.e.n.d.s! =) A companhia foi das melhores, e eu até consegui dormir alguma coisa! Só a comida que perdeu muitos pontos... Mas não faz mal. Tenho que lembrar que nada é perfeito e trazer snacks na próxima vez. Ninguém merece passar fome de madrugada no meio do Atlântico...

Dentro do Boeing! (11-quase-12 /12)

Cheia de tranqueira, toda desastrada, num seat tão apertado que me lembra o Grande Ônibus Lotado (GOL). Na hora do embarque me deu um desespero, quando eu vi meu nome na tela da Tv, "D. Almeida", onde se lia "passengers please go to the closest Air France counter", algo assim. E lá fui eu, e todos os balcões VAZIOS! Que que se faz numa hora dessas? Eu desesperada, achando que eu tinha feito algo errado, eu já tava desconfiando que eu tinha que imprimir outro bilhete, mas eu fui passando e foram deixando, aí eu não imprimi. Agora eles tavam me chamando. Pra quê?? A lesa aqui foi até o outro lado do aeroporto, e nada de achar um balcão ocupado... Aí, fazer o que, né... Voltei pro meu Portão. E chego lá, o balcão mais próximo tinha UM funcionário, e uma fila enorme de passageiros com seus nomes na tela, sem entender nada, como eu.
No final não era nenhum problema, na verdade não era NADA. E eu me estressei sem motivos e ainda perdi um tempão.
Bom, agora já estamos todos embarcados e sentadinhos, e tem um casal muito fofo de alemães sentados do meu lado, dizendo que meu alemão é perfeito. =D Ganhei meu dia. Não que eu acredite, mas é sempre bom um incentivo, né? Hum. Bon Voyage!

Aeroporto Charles-de-Gâule, Paris. (11/12)

Acabei de achar um celular bonzão dando sopa no chão da sala de embarque. Que engraçado que é o sentimento... Não sabia o que fazer! Fiquei em pé com o celular na mão, olhando ao redor, procurando o dono... Como se ele fosse estar sentado a dois metros de distância do celular caído no chão, ou andando pelo salão à procura da capa de couro preto... Há. Sentei e coloquei o bichinho na cadeira do lado, pensando no que fazer.
Minhas opções eram:
1- entregar a alguém no aeroporto, um funcionário, e contar a história, sabendo do risco de o dono nunca mais ver seu aparelho novamente.
2- Xeretar nos contatos e nas últimas chamadas, e ligar pra alguém próximo do dono e descobrir pra onde mandar o aparelho perdido. Claro que aí tem o risco de o dono te achar xeretando no celular dele, o que não é nada agradável...
3- Deixar ele ali mesmo, talvez o dono volte depois, talvez apareça outro dono, sei lá...
4- Ser o próximo dono (amo) do gênio da lâmpada e pronto.

Era um celular daqueles Blackberries com internet, chamadas internacionais quase de graça etc. Bom, ainda assim me decidi pela opção nº2 e, se não obtivesse sucesso, pularia para a nº4. E foi assim: me bati pra destravar o aparelhinho, que era muito tecnológico pra o que eu tô acostumada. O nome do cara estava logo na tela de fundo, mas isso não me ajuda muito... Fui pras últimas ligações, e não era nenhum nome, era alguma coisa com "kind", e eu pensei, ótimo, posso falar em alemão! Mas do lado estava escrito "(PO)", o que podia significar Polônia, e não seria nada bom, só sei falar palavrão em polonês... esolvi tentar a lista de contatos, mas tava tudo em francês, e eu tava lá me batendo com meu novo brinquedinho, um Blackberry usado com mil informações em francês de alguém desconhecido, quando o tal alguém aparece atrás do meu ombro e diz "Oh... I think that's... that's mine!" Blé.

Chegando em Paris! (11/12)

Dia sem noção! Ainda bem que minha enxaqueca passou, senão não teria conseguido! (dois dias de enxaqueca non-stop... um terceiro dia e eu ia arrancar minha cabeça fora.) E graças a DEUS a Gi e a Vane dormiram lá em casa ontem, e a Vane me ajudou MUITO hoje, tanto na arrumação da mala quanto da casa. Se não fosse por ela, nem sei...
No final deu tempo de quase tudo, só não fiz alguns cartões de Natal importantes, uma pena...
No aeroporto foi tudo bem. Foi todo mundo me deixar: A Manuela, a Felia, o Luca e o Willi, e até a Alexa apareceu! Muito fofa. =) Eu adorei. "Ich wollte dich noch mal drücken, bevor du fliegst!", ela disse. =)
Na hora de embarcar perdi meu creme de lavar o rosto. =( Porque tinha mais de 100ml de espaço vazio!! Tosco...
Bem, a coisa mais fofa foi eles acenando (pulando!) quando eu desaparecia no portão de embarque... A Felia olhando sem entender nada, o Luca gritando "winke-winke!" e a Manuela pulando com os braços balançando no ar. Muito lindos! Me senti tão querida!
Agora estamos aterrisando em Paris, e eu vou ter 3h de espera... até embarcar pro Rio de Janeiro!! =) Mal posso esperar pra sentir calor de novo. \o/ Uhuw!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Já é tempo...

... de abrir o coracao e sonhar!




Natal na cidade mágica que eu tô morando. Tá tudo tao lindo!!! Dá até pena de sair daqui antes do Natal chegar, mas eu tô super nem aí!!! Porque "eu tô voltando pra casa, eu tô voltando!"... Entao, último fim de semana na cidade mágica enquanto ela tá mágica... Com nada mais nada menos que....... meu namoradoooo! =D

Amo!

Winterdom!

Sair no frio, no escuro, tarde da noite, pra ir pra rua mais famosa da cidade, mas nao pra dancar. Pra comer algodao doce. O que um desejo nao faz né... Fogos de artifício muito xoxos, um frio de rachar, uma roupa nao-de-inverno, e um algodao doce super caro. Tudo isso e ainda assim eu me diverti muito!!! Bianca e Jenn completaram a cena com fotos brilhantes e carrinhos desvairados (ou motoristas desvairados, eu devo dizer). Resultado: boca roxa do frio, perna roxa das batidas violentas e um sorriso irremediável no rosto!! =)











sexta-feira, 27 de novembro de 2009

3 em 1











Ticket de transporte público por três dias: €23
Supermercado para quatro dias: €26
Ticket de fim de semana dividido por cinco pessoas: €37 /5 = €8 X 2
Entradas para o Castelo e para o Jardim de Ludwigsburg: €4 X 2
Entradas para o Castelo de Neuschwanstein: €9 X 2
Ônibus de volta à estacao: €2 X 2
Comidinhas no caminho: €15

Tudo isso pra substituir uma viagem a Colônia que custaria €(20X2)+130+40+(10,5X2)+20+24+y.

Entao: trocar uma viagem por três viagens a três lugares lindos e gastar a metade do que se esperava: nao tem preco.


Bom, deixamos de ver Colônia, mas ela nao vai sair de lá. E o Neuwschwanstein faz tudo tudo tudo valer a pena. =) Somando com Ludwigsburg, Esslingen e NamoradoLindo, entao... Nao trocaria por nada!!! =D

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

In Mayo verreisen.

Isso que dá me meter com esses brasileiros malucos... Hum... Pequeno diálogo em alemao criado num sofá do McCafé na Hauptbahnhof de Hamburgo. =P


- Was guckst du an? Bin ich Kino?
- Ah, mein Sohn, denkst du was, dass hier Mutter Johannas Haus ist?
- Bah! Hör auf in Mayo zu verreisen!
- Ah, was, bist du die letzte Cola der Wüste?
- Und du, das letzte Keks der Verpackung? Sprich mal ernst!
- Niemand verdient's...


É... isso é só uma amostra grátis do nosso futuro livro, sogenannt: "Alles geht vorbei, sogar die Rosinen."


PS: Quem nao entender alemao e quiser muito entender a piada, tente aqui: http://translate.eu/de/translators/Portuguese-German/ A traducao nao fica muito legal... =P Mas dá pra vcs sacarem a nossa intencao. =)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009












Enfim.

Falta tao pouco tempo que eu nao sei se é bom ou ruim, e nao sei se conto os dias pra ir ou os dias que tenho pra ficar aqui... Queria ter mais tempo, mas ao mesmo tempo, queria chegar aí amanha. =/ Difícil abracar o mundo como se abraca o travesseiro... E difícil estar onde se quer estar como se está quando se vê fotos antigas ou relê diários ou os escreve... Às vezes quero estar em casa, e às vezes já estou. Estranho? Acho que nem tanto, ainda mais pra alguém que nem eu. (Seja lá o que isso quer dizer.)

Como estás? Nao me mandas emails grandes desde o início do ano. O ano passou que nem um arco-íris que é tao lindo, e a gente nao quer parar de olhar, porque a qualquer momento pode sumir. Quem já viu um arco-íris sumir? Quem já viu ele aparecer? Só se vê quando ele está lá e pronto. E de repente ele nao está mais, e pronto. Meu ano foi assim, colorido, lindo e fugaz.

E eu ainda tô no meio de Outubro e já tô falando como se o ano tivesse acabado... Mas a verdade é que tem dias que eu conto meu tempo por fins de semana. Meu tempo livre é no fim de semana, é quando eu posso viajar ou nao, quando eu posso sair ou nao, quando eu posso dormir até mais tarde, ou nao. E eu só tenho mais sete fins de semana aqui. Sete!! Sendo que o último vai ser arrumando mala, entao nao conta. E dois fins de semana eu vou trabalhar, entao nao vai ser tempo livre. Entao eu tenho quatro fins de semana!!!! É muito pouco.

=P

Blé, deixa minha matemática de surfista pra lá. Eu quero mesmo é saber como estás, se estás feliz. E saber se estás ansioso pra me ver. Cof cof cof. hehehe =)
Saudades.
Amo vc.
Beijo
Di.

sábado, 10 de outubro de 2009

A Arte de Perder.

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Já contei pra vocês da Simone? A Simone é uma "guria" que veio passar um dia na minha casa uma vez. Ela é do Sul e tá morando em Colônia, e veio visitar Hamburgo e nao tinha onde ficar. Bom, ela me ensinou uma coisa que eu nunca esqueci. Foi assim. A gente tava caminhando pro restaurante preferido da galera (Kartoffelkeller, claro) e ela contou das botas que ela estava usando na hora. Contou que achou o par de botas na rua, empézinho, bonitinho, só esperando por ela. Ela olhou e pensou "maneiro! nao tenho botas!". Calcou e... surpresa! Coube direitinho no pé dela. Que coisa, nao? No dia seguinte estávamos eu, Simone e Giovana, que também passou a noite na minha casa, e pá! A Simone esbarra num par de luvas de couro lindas, juntinhas, na frente da Hauptbahnhof. Ela pegou e colocou na mao. Certinho!! E adivinha... ela nao tinha luvas. Contaram pra Simone do costume alemao de nao pegar pra si nada que se acha na rua (exceto dinheiro, talvez. E Pfand!). Eles acham uma blusa, um casaco, um cachecol, uma luva, um bichinho de pelúcia, o que for, e colocam fora do caminho, pendurado numa cerca, em cima de um arbusto, bem à vista da pessoa que com certeza vai voltar pra buscar o que perdeu. Assim a gente anda na rua, nas calcadas, e sempre vê alguma coisa ali esperando pelo dono. Dá até vergonha de pegar, porque os outros vao olhar e vao saber que você está roubando, pegando algo que nao é seu, e que vai fazer falta pra alguém.
Outro dia eu vi um lenco LINDO, penduradinho na cerca da casa no final da minha rua. Eu passei a primeira vez, vi, parei, olhei em volta, tinha muita gente, ai que vontade de pegar!! Era verdinho transparente, com umas florzinhas pequeninas coloridas, bordadas. Disse a mim mesma que se eu passasse ali de novo e o negócio ainda estivesse lá, eu ia pegar pra mim. Passei mais três vezes e nao peguei. Essa cultura alema impregna mesmo...
Bom, ontem eu tava com a Felia passeando, tirando fotos do Outono que tá chegando, e deixei umas coisas em cima do carrinho dela: a capa da máquina, minhas chaves, o livro que eu estava lendo e um saquinho com biscoitos que a Felia gosta. Saí alegre e saltitante, colecionando folhinhas vermelhas e colocando dentro do livro, e tirando minhas fotos, observando as pessoas... No caminho que eu faco com a Felia tem muitas pessoas com carrinhos de bebê ou fazendo jogging, ou os dois. E nesse meio tempo umas três passaram por mim. Quando dei por mim, o saquinho de biscoito e o livro tinham sumido. Olhei ao redor, procurei embaixo do carrinho, nada. Fiz o caminho de volta e achei: só o saquinho. Meu livro foi roubado!! =( Pela primeira vez, senti o que os outros devem sentir quando fazem o caminho de volta e nao encontram o que perderam pendurado em nenhuma cerca. É horrível. Me senti desarmada, primeiro porque ia ficar sem saber o final da história, e segundo porque nenhuma das folhas que eu juntei jamais vai voltar pra mim. Lembrei de um poema da Elizabeth Bishop, que chama "A Arte de Perder", e ela diz que nao tem nenhum mistério em perder algo.
E é mesmo, quando você perde algo que você gosta muito e sente que nao pode viver sem, e entao descobre que pode sim, que há vida além daquilo... É uma sensacao de desespero no início, de sem chao... Mas depois vem a sensacao de liberdade e é nisso que você deve se agarrar. Alguém vai ler aquele livro, e pode ser que guarde as folhas como uma lembranca de alguém que nunca conheceu. É o que eu faria.
Alguém vai fazer bom uso das botas que você, por algum motivo misterioso, deixou juntinhas no canto da rua. Alguém vai esquentar as maos e se sentir o máximo nas luvas de couro que você deu a sorte de perder - JUNTAS! (Quem além de mim perderia os dois lados da luva de uma vez só?)
E se você achar algo na rua de que possa fazer muito bom uso, pensa bem, por que nao pegar? Além de dar um novo sentido ao objeto, pode dar um novo sentido à vida de quem o perdeu.
E como diria a Simone, "Você precisa, você reza por aquilo. E Deus ajuda, mas você tem que pegar!"

Esperando o dono, antigo ou novo.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sverige

Todo mundo já ouviu falar pelo menos uma coisinha sobre a Suica: os chocolates, a neve, os Alpes, o fenômeno das diversas culturalidades em um país só (cada parte do país fala uma língua diferente)... E também muitos de nós pobres brasileiros, mortais e ignorantes, confundem este pequeno e curioso país com aquele outro de nome parecido (mas só em português): Suecia. Mas o que eu já ouvi falar sobre a Suecia? Na verdade nada, até chegar aqui. Por ser relativamente pertinho da Alemanha, aqui é cheio de suecos, e tenho três amigas que, morando em Hamburgo, comecaram a namorar suecos que moravam na Suecia. Uma delas até terminou seu ano de au pair e foi morar com o namorado em Estocolmo. E uma das pessoas com quem tenho saído e me divertido muito ultimamente é a Malin, minha vizinha de bairro (uma das poucas que conhece Rahlstedt tao bem quanto eu, e que sofre as mesmas coisas que eu sofro por morar tao longe e tao isoladamente do resto do mundo.) =P. Ela é sueca e tem 19 anos, vai fazer 20 em algumas semanas (no dia do aniversário da Bianquinha). E com ela tenho aprendido mais algumas coisas sobre a quase chará da Suica (mas só em português). Aí vao algumas curiosidades...

Por ser um país nórdico, a Suecia sofre da depressao do inverno e da exaltacao do verao. No inverno é escuro e frio demais, com poucas horas de sol por dia, e no verao é o oposto, de modo que o comportamento das pessoas numa época e na outra é quase extremo: muito fechado no inverno e totalmente louco no verao. Ela explica: quanto mais se vai para o norte da Europa, mais as pessoas sao fechadas, frias e tímidas, muito tímidas. Se você estiver na parada do ônibus e tiver uma pessoa sentada no banco, podem ter três lugares do lado da pessoa, mas dificilmente outra pessoa vai sentar também. E as pessoas nao falam umas com as outras, mesmo quando estao na rua e precisam saber as horas. (Ela me contou isso quando estávamos juntas descendo do ônibus e eu agradeci ao motorista e desejei boa noite.)

Assim sendo, toda a empolgacao com a vida e a vontade de se divertir fica retida, e quando os suecos viajam de férias eles se soltam e fazem fora do país tudo o que nao fariam em casa. Daí a fama dos suecos Europa afora e mundo afora, de serem extremamente liberais, de beberem muito, andarem pelados na rua e fazerem sexo em público. =P A Suecia tem fama de ser pior que a Holanda!! (ou melhor, a depender do ponto de vista)

Só é permitido o consumo de bebidas alcóolicas a partir dos 20 anos de idade.

Lá eles têm uma festa que celebra a chegada do verao, que é a festa mais esperada e comemorada e amada e venerada do ano inteiro. E "coincidentemente" (ou pelo menos curiosamente), a maioria dos bebês que nascem no país nascem exatamente nove meses depois desta festa.

Sueco é muito parecido com o alemao, e quando a gente lê dá até pra entender alguma coisa...

Eles aprendem alemao na escola, e a pronúncia da Malin é tao perfeita que dá inveja, e ela mora aqui desde Fevereiro.

Hum... acho que isso é tudo que eu sei da Suécia. Agora falta ir lá pra poder contar mais. =)
Fotos da saída com a Malin e com a Paty, ontem à noite: =D


"Inocente!" (reparem no bonequinho atrás das grades)

"Eu amo Medo"


Malin & eu.

A Malin é louca.

Nao disse?

A Paty também.

É nóis! =) <3

Ligadoooonas... =X

Paty dormindo já, escorada na borda da foto. =P

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

As cores que faltavam e nao faltam mais.


Quase 10 meses sem o almoco da Dona Dal, sem as sobremesas da Camila, sem os quitutes da Vovó. 10 meses sem comer brigadeiro!!! Acreditam? Bom, Leite Moca nao era o problema. Aqui na Alemanha tem, é da Nestlé também, e chama Milch Mädchen. Eu pessoalmente nunca vi, mas todos dizem que vende no Edeka (supermercado chique). Mas de qualquer maneira, pedi pro meu namoGado trazer do Brasil umas latinhas... Ele trouxe duas, que ficaram guardadinhas no armário, esperando a hora certa de desaparecerem.

A hora foi dez da noite, o dia, quarta-feira, enquanto falava com a Luisa no MSN e ela me contava que tinha acabado de fazer brigadeiro sozinha pela primeira vez (na verdade a Valéria tava no viva voz dizendo o que fazer). Eu nao resisti e disse: eu quero! Vou fazer também! E fiz.

Nao tinha manteiga, o granulado era velho e eu ainda quase deixo queimar porque inventei de continuar falando no msn, e parei de mexer de vez em quando. O fogo daqui é muito potente (é elétrico) e o cheiro do chocolate - caramelo queimado tava espalhado pela casa, até o Willi veio ver o que era. Ele chegou bem na hora que eu saí pulando com careta de dor, de tanto mexer panela a minha mao ficou imprestável... Ele riu e disse "viel Spaß!" e foi dormir. Eu fiquei até uma da manha enrolando brigadeiro, passando no granulado esbranquicado e colocando nas poucas forminhas pequenas que a Manuela tinha.

No dia seguinte, exibi meus docinhos pra eles. Eles nao pegaram nenhum, e o pratinho ficou lá na cozinha, reluzente, chamativo, eu doida pra comer, e tchan! comi. Comi quase todos!!
Deixei uns 4, fora o que a Oma comeu e o que o Luca comeu, o resto foi tudo meu.
Aí a Manuela chegou e pediu pra provar.

Pra minha surpresa, ela comeu dois, deu um pra amiga e deixou um pro Willi, e ficou pedindo mais. "Diana, isso é muito gostoso!!!"

Aí que foi. Hoje eu tirei meu dia pra fazer docinhos. Fiz brigadeiro com granulado colorido, com granulado de chocolate, fiz casadinho e solteirinho, com acucar e sem. Amanha vou servir com todas as honras depois do jantar. Isto é, se eu aguentar, né... Nao é nada fácil ficar olhando pra eles aqui em cima do meu fogao...