segunda-feira, 21 de maio de 2012

Gosto da poesia que brota naturalmente, inesperadamente. Dos olhos, da boca, das mãos, do papel, do instrumento, de onde a gente nem imagina. Da poesia que nasce porque é.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

asmaourdade

Tirei algumas fotos do espelho embaçado do banheiro depois de um banho quente, da palavra "saudade" escrita a dedo na superfície úmida.

Como muitos sabem, quando o espelho desembaça, a palavra continua ali, invisivel, até que alguém tome um novo banho quente.

Minha irmã devia saber disso, quando, durante uma visita num feriado, deixou um recadinho pra mim no espelho do banheiro. Eu, claro, não soube do recadinho até um belo dia, em que me atacava a solidão e as dúvidas e as crises de pré-meia-idade. Tomei um banho demorado para lavar a alma daqueles sentimentos nada bem-vindos, e ao sair, dei de cara com o espelho embaçado, com palavras fracas escritas a dedo: "para Di, com amor".

Soube que era dela pela letra, de fôrma, espaçada. Ela não deve ter visto que já tinha uma palavra escrita lá, e acabou escrevendo por cima.

Agora, toda vez que eu tomo banho, olho pro espelho e vejo um recado que diz "para di, com -" e embaixo, amor misturado com saudade.

vazio solitário e luz reluzente

Antigas páginas de diário...
(Se minha família ler isso aqui, por favor não se preocupem, eu estou bem. =D )


16/3

Acho que já chega de ter pena desse caderno, por mais lindo e maravilhoso que ele seja. Não importa o quanto eu tente, não vou conseguir escrever nada digno desse caderno. Mas ele é meu, e precisa cumprir seu destino de carregar minhas palavras estúpidas.


Eu estou só.

São as palavras mais estúpidas que qualquer caderno jamais carregará, em segredo ou não, em qualquer língua que fala seu dono.
Eu estou só.
Quanto mais eu repito, penso, escrevo e realizo essas palavras, mais idiotas e estúpidas elas me parecem, e mais doloridas.
Estou eu só?
Só estou eu?
Só eu estou?
Estou só.

Eu.
Só.
Estou.
Só.

lágrima.
outra.

Nem em poema elas ficam menos estúpidas.
Acho que...

Não acho nada. Eu sempre quero começar minhas frases com "eu acho que", mesmo começando a pensar no que eu acho só depois de tê-las dito. É estúpido, eu sei. Me obrga a achar alguma coisa digna de ser dita. Mas a verdade é que nem sempre eu acho. Na maioria das vezes, não acho nada, só falo "acho que" para ganhar um pouco mais de tempo antes da fatal opinião improvisada.

Tenho andado sensível demais... Eu sei que é clichê, mas simplesmente qualquer coisa me faz chorar... Minhas angústias não são claras pra mim, talvez eu nem tenha de fato angústias concretas, mas parece que tudo que eu sinto eu sinto muito. Como se, para saber direito o que se passa lá dentro, eu usasse lipa, aparelho auditivo e óculos infravermelhos, de modo a ver melhor, ouvir melhor e captar o invisível. E o único resultado fatídico é uma constante vontade de chorar, reprimida 80% do tempo. Uma vontade sem motivos, um deseno de desejo, uma saudade de qualquer coisa, um....


vazio.




Não é bem o tempo inteiro, é tipo assim, só quando eu penso nisso. Como a sede que dá quando se ouve a palavra água, uma sede que já tava lá, só não a tínhamos percebido ainda.

Eu estudo, penso, aprendo, anoto, leio, leio leio, todo dia, boa parte do dia. Olhos cansados, coloca os óculos. Ocúlos sujos, limpa os óculos. Sono, coloca os óculos com água, café e chocolate. Sono também vem todo dia, boa parte do dia, como sempre foi. Eu resisto quando preciso, mas um dia desses fui à enfermaria po conta de um sono absolutamente irresistível, dormi por meia hora.

Em casa, o sono me acompanha nas arrumações, nas leituras, nos filmes, nas conversas com o namorado por 25 centavos a ligação (dizem). De manhã, de madrugada, cinco horas, hora ingrata, ele sussurra belos sonhos e falsas promessas de minutinhos no paraíso, e dá muito trabalho à razão, se não fosse por ela eu só chegava atrasada. Quero ver quando ela também cair no sono de tanto pensar, estudar, ler, aprender.

Cadê meus óculos?

Rodeios à parte, esse diário lindo e abandonado é a prova da minha solidão desesperada e estúpida. Por que não converso com meu anjo da guarda, né? Ele pelo menos me dá respostas intuitivas e abstratas, totalmente dificeis de decifrar e de distinguir dos meus próprios pensamentos! Melhor que um diário lindo, que só faz colocar seus segredos em risco e suas verdades cara a cara, além de constituir prova concreta de sua inabilidade literária...

Bom. (outro ganha tempo)

Colei e pendurei palavras e frases na parede ao lado da cama. Pura questão de estética, porque ler que é bom, muy dificil. Agura estou lendo e gosto delas... As palavras que mais me chamam a atenção são "desenvolvimento integral". Sempre me fazem pensar por que diabos eu as grudei ali. E a pergunta traz consigo a resposta, e uma chama se amplia na salinha da esperança.

O vazio se ilumina um pouco, e a esperança de que a luz espante um pouco o medo de ficar sozinha se acende, reluzente (como toda luz deve ser, certo?).