quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Viajar para Viver

história que aconteceu graças à MINHA cidade. =D
texto sensacional!!

por Eugenio Mussak

Por obrigações de trabalho, mas também por puro prazer e vontade de aprender, sempre viajei muito. Estive em todos os estados brasileiros – em alguns, várias vezes – e em boa parte do mundo. Nessas viagens, conheci, claro, muitas coisas interessantes e outras nem tanto. E estive em lugares de todos os tipos. Alguns maravilhosos, outros deploráveis, mas de todos guardo lembranças de experiências que me ajudaram a ser melhor.

E conheci também muitas pessoas interessantes. Tenho uma verdadeira coleção de tipos com quem interagi e que me ensinaram alguma coisa. Lembro- me, por exemplo, de um norteamericano de certa idade que sentou a meu lado num voo para Belém do Pará, em 1990. Antes de embarcar, eu havia passado na livraria do aeroporto para comprar um lançamento de meu ficcionista científico preferido, o russo-americano Isaac Asimov, chamado A Viagem Fantástica II.

Logo que embarquei, tratei de me acomodar na poltrona, ávido para começar a leitura. Mas, logo após a decolagem, enquanto eu ainda estava nas páginas iniciais, notei que o cidadão ao lado estava com o corpo ligeiramente curvado em minha direção e os olhos esticados, tentando ler meu livro. Isso me incomodou e eu olhei para ele fixamente. Ele, então, sorriu meio sem jeito, mas com simpatia me perguntou: – Desculpe, o senhor fala inglês?

Levei um instante para perceber que ele falava comigo, em um inglês de norte-americano nativo – “Excuse me, do you speak English?” Achei engraçada a coincidência, pois o livro começava com uma moça se dirigindo a um cientista durante um congresso, perguntando: “Desculpe, mas o senhor fala russo?” Coincidência ou não, aquilo quebrou minha resistência.

– Yes, but... Sim, mas não perfeito – respondi, cuidando para, junto com a resposta, devolver o sorriso que o estranho ao meu lado me dava.

– Com certeza, é melhor que meu português – acrescentou ele, polidamente. – É que eu reparei que você está lendo AViagem Fantástica, do Asimov, e esse livro foi lançado nos Estados Unidos há uns dois anos apenas. O que está achando dele?
– Na verdade, acabei de começar a leitura, mas estou animado. Gosto do Asimov porque ele usa fundamentos científicos prováveis em suas histórias de ficção e não apenas palavras da ciência para enganar o leitor, como fazem outros.

– Concordo. Suas histórias talvez possam ser realizadas no futuro, como as viagens interestelares. Aliás, ele gosta de escrever sobre viagens. Você já reparou como os livros que relatam viagens encantam as pessoas?

– Nunca tinha parado para pensar sobre isso, mas acho que você tem razão, pois viajar é um forte desejo humano. Além disso, ler um livro é como fazer uma viagem. Tanto a viagem como o livro nos colocam frente ao desconhecido, que é, ao mesmo tempo, excitante e amedrontador.

– Sim, praticamente todos os grandes livros são excitantes e amedrontadores. Veja o primeiro grande autor, Homero. Na Odisseia, Ulisses, após a guerra de Troia, trata de voltar para casa e inicia uma viagem cheia de aventuras, ao mesmo tempo em que Telêmaco, seu filho, viaja para procurá-lo. Se você pensar bem, verá que essa história poderia ser definida como a viagem de encontro ao destino de cada um.
Estava começando a gostar daquele gringo. Era bem-humorado, entendia de literatura e ainda fez uma rápida análise psicológica de um clássico. Resolvi cutucá-lo. Se a conversa estivesse boa eu poderia dar-lhe corda, se não, tinha a desculpa de voltar à leitura.

– Camões escreveu algo parecido em Os Lusíadas. Assim como Ulisses e Telêmaco, Vasco da Gama também é protegido por alguns deuses e perseguido por outros. E você reparou que, em ambos os casos, o objetivo final da viagem é voltar para casa? Fico pensando que esse seria o objetivo de qualquer viagem. Voltar para casa.

– Ou voltar-se a si mesmo – continuou ele. – Olhar o exterior para entender melhor o interior. Você tem razão quanto ao destino final. Veja o caso do lorde Phileas Fogg, n’A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Jules Verne, que parte de Londres com destino a Londres. Ele viaja para o leste e volta pelo oeste. Só que, quando volta, ele é outra pessoa, menos esnobe, mais humilde, melhor. Está apaixonado pela princesa que conheceu na Índia, mas, na verdade, o que aconteceu é que ele desenvolveu uma nova paixão pela vida. Através da aventura e do amor, ele reencontrou o homem que já tinha sido e do qual tinha se afastado em função das convenções e obrigações sociais, muito fortes na Inglaterra vitoriana.

– Ele volta diferente, melhor do que era antes de partir. A conclusão é que a melhor parte de uma viagem é a volta? – perguntei.

– Não, a melhor parte é o aprendizado. Veja o caso dos livros do escritor brasileiro que está despontando no mundo. Seus personagens voltam para casa só após terem aprendido alguma coisa e se transformado para melhor. (Ele estava se referindo ao Paulo Coelho, que na época já tinha lançado seus dois primeiros livros, ambos sobre viagens.)

– Então, em sua opinião, as viagens são tão atrativas por serem metáforas da própria vida? Nesse sentido, este li- vro do Asimov talvez seja o mais perfeito, pois a viagem a que ele se refere é para dentro do corpo de uma pessoa, utilizando um submarino miniaturizado. Com o detalhe de que eles vão até o cérebro, o centro do pensamento.

– A metáfora do Asimov é ótima, e o título do livro é melhor ainda, pois nosso interior é o território mais misterioso. Mas não estou me referindo ao corpo, e sim à alma humana. E, preste atenção: todos nós nascemos viajantes, mesmo quem não viaja, pois, se pensar bem, você verá que a verdadeira viagem fantástica é a própria vida.

– A verdadeira viagem fantástica é a própria vida... – pronunciei eu, lentamente, falando comigo mesmo, em uma reação própria de alguém que tem um imenso e maravilhoso insight.

Já se passaram cerca de 20 anos desde esse encontro. Não me lembro o nome do viajante ao lado nem se o diálogo foi exatamente assim. Mas me lembro bem do assunto que tratamos e, sobre ele, lembro que estava morando no Brasil porque havia se apaixonado primeiro por uma brasileira do Norte e depois por nossa cultura, música e comida. Recordo as analogias da viagem com a vida, do fato de que os confortos e as dificuldades, as alegrias e os aborrecimentos, as idas e as vindas de uma viagem são uma paráfrase perfeita da própria existência humana. E lembro que ele citou Bob Dylan antes de pedir licença e se recostar na poltrona para dormir o resto do voo:

– Yes, my friend: “Life is nothing but a trip”. (“A vida nada mais é do que uma viagem.”) E me deixou com o livro nas mãos, a cabeça cheia de pensamentos e o coração pulsando com a ideia de que a vida é uma viagem fantástica. Nunca mais parei de me considerar um viajante para seguir em frente, seja em outro continente, seja em meu bairro.
É fundamental definir bem o roteiro para não ter surpresas ruins na viagem? Há dois tipos de viagem que eu gosto: as que eu planejo nos mínimos detalhes e as que eu faço sem planejar nada. É claro que as viagens planejadas são mais confortáveis têm menos surpresas, mas não podemos esquecer que as surpresas fazem parte dela. Aliás, viajamos para nos surpreender com o mundo. Atualmente, eu prefiro planejar até certo ponto, como definir bem as datas de ir e voltar, reservar alguns hotéis, mas gosto de deixar espaço para o improviso, para a aventura.

Viajar é uma das melhores sensações da vida. O dinheiro aplicado em uma viagem não é um gasto, e sim um investimento. Seu retorno vem em forma de cultura, de entendimento, de percepção, de experiência e, principalmente, em forma de vida. Uma viagem não se esgota no retorno. Continua em nossa lembrança em forma de imagens, sons, cheiros, texturas.

Lembro quando viajei pelo Saara com um amigo israelense chamado Avi. Ele dirigia um caminhão especialmente preparado para aquelas condições e de repente esticou o braço para fora da janela, apontando para um lugar no meio da areia, e disse:

– Olhe, um tuaregue. Eu apertei os olhos e fiquei tentando encontrar o habitante do deserto a que ele se referia, mas o máximo que conseguia ver, além da areia, era um pequeno movimento que lembrava água sobre as dunas – na verdade uma ilusão causada pelas ondas de calor que o solo devolve à atmosfera. Ele, percebendo minha dificuldade, parou o caminhão e me convidou a descer.

Foi então que eu pude ver um homem e seu camelo, ambos da mesma cor, e da cor do deserto, claro, em perfeita harmonia, de uma beleza ímpar.
– Para onde ele está indo? – perguntei, provavelmente só para dizer alguma coisa para cortar aquele silêncio eloquente do deserto.

Ele está sempre em movimento – explicou meu amigo. – Não precisa ter, necessariamente, um lugar para ir. Ele é um nômade que não sai do deserto, mas está sempre viajando, pois essa é sua essência. Assim como as dunas, que se movem permanentemente, o habitante do deserto não se detém. Ele sabe que, se parar provavelmente, será coberto pela areia.

E assim somos nós, ocidentais urbanos, que também precisamos do movimento para não sermos cobertos pela poeira do tempo e pelo mofo da acomodação. Uma viagem pode não ser a vida, mas é uma bela metáfora dela, pois nos faz defrontar uma realidade maior e nos abre a alma para o entendimento.

Entretanto, sempre é bom lembrar que viajar tem partes, e uma delas é a volta para casa. E feliz daquele que considerar esta como uma das melhores. Entre outras coisas, viajar nos ensina a amar nosso lar, nosso país, nossa gente. Afinal, como disse Goethe, sábio é aquele que consegue criar, para seu uso, “raízes e asas”, essas duas maravilhosas possibilidades humanas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mutirão!

Quem topa montar um mutirão de limpeza em Belém do Pará? Levante a mão e me escreva um E-mail. Quero pegar um povo, uma luva de plástico e uns sacos de lixo e passar uma manhã catando aqueles lixos nas ruas e nas praças, aqueles que todo mundo vê e ninguém cata, e que só enfeiam e apodrecem lentamente a coitadinha da nossa natureza. E aí? E então? Quem quer?

escreva pra cá:
umdianalua@gmail.com